'O CONHECIMENTO LIBERTA'... DIZ O AMBULANTE...

IMAGEM ILUSTRATIVA: VENDEDOR ambulante, c.1895. Coleção Gilberto Ferrez. Foto: Marc Ferrez
Livros me fazem esquecer a vida dura
O pernambucano Lamartine Brasiliano, 38 anos, ambulante em São Paulo, encontra nos livros de Guimarães Rosa e Graciliano Ramos um contraponto para o trabalho árduo nas ruas, vendendo água e refrigerante nos semáforos.
"Saí de Recife há cinco anos para tentar a vida em São Paulo e vivo com mais 468 famílias em um edifício invadido pelo Movimento Sem-Teto no centro paulistano.
Ler é minha paixão, embora só tenha estudado até a quarta série.
Minha vida tem sido só batalha, passo o dia vendendo água e refrigerante nos sinais, mas os livros me ajudam a tirar um pouco das costas o fardo cotidiano.
Em meu entender, o conhecimento liberta. Lendo, vou para outros mundos, me sinto um pouco personagem das histórias. Por isso, sempre que vejo alguém deprimido, empresto um livro. Pena que ninguém devolve.
Tomei gosto pela leitura ainda bem moleque, acompanhando meu tio, que fazia repentes e emboladas e passava o dia contando casos na feira. Aprendi as palavras nos folhetos de cordel e, sempre que podia, comprava um livro no sebo com o dinheiro que ganhava vendendo caju e fazendo carreto. Não havia energia elétrica no sítio onde minha família morava – faltava até chinelo para pôr no pé.TV só na casa do vizinho, onde a luz era provida por uma bateria. Mas eu não gostava dos programas, preferia ficar em casa, lendo.
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HISTÓRIAS DA NOSSA TERRA
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Gosto de todo tipo de livro, mas prefiro grandes autores, como Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, José de Alencar, Jorge Amado e J. G. de Araújo Jorge, que falam das coisas do Brasil e dos problemas que afligem o povo, especialmente o sertanejo.
Seara Vermelha, de Jorge Amado, por exemplo, me toca profundamente, pois me faz lembrar das andanças pelo sertão do Ceará, de Pernambuco, da Paraíba ao lado de minha mãe, que era romeira, e onde vi todo tipo de sofrimento.
No livro, as pessoas passam tanta fome que comem o gato da menina. É muito triste.
No prédio onde moro, há uma biblioteca com 3,5 mil livros doados e sou um dos freqüentadores mais assíduos.
Em meu apartamento, tenho uns 30 exemplares, entre eles cinco que consegui trazer de Pernambuco, como Os Mais Belos Poemas que o Amor Inspirou, de J. G. de Araújo Jorge. Os outros, fui comprando aqui, em sebos. Sugeri a meu filho, de 13 anos, que lesse Casa Grande & Senzala, do sociólogo Gilberto Freyre, mas a professora o desestimulou com o argumento de que era uma leitura muito pesada para sua idade. Mas ele já está quase acabando... Esse, para mim, é um livro fundamental, pois continua atual.
Basta ver as condições de trabalho que os usineiros de cana-de-açúcar do Nordeste impõem ainda hoje aos trabalhadores – é quase uma escravidão. Lembro de frases de livros.
Uma que me fala alto é de José de Alencar: ‘Somente aqueles que não conseguem se edificar vingam-se tentando demolir os outros’. É uma lição em minha vida.”
INTEGRANTE DA MATÉRIA VOLTA POR CIMA - REVISTA "BONS FLUIDOS" [LINK]
Fonte:blog arte brasilis 14.03.12
IMAGENS DE VENDEDORES AMBULANTES...
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